11 de nov. de 2007

DIAS 21 e 22 DE OUTUBRO DE 2007 - domingo e segunda-feira
DE SAN PEDRO DO ATACAMA A ANTOFAGASTA (Chile) - (480 km rodados no dia) - 4390 km rodados desde Brasília, sendo 2010 km na Argentina e 640 km no Chile e mais de 1000 fotos -
Saimos de S. Pedro por volta das 9 h de domingo, dia 21/10, em direção ao Pacífico. Ainda dentro da cidade, fomos parados por um carabinero (policial chileno). Havia uma placa escrito PARE em uma daquelas ruazinhas de terra e passamos direto. Lá veio o policial, sinalizando com as mãos. Argumentei que não havia vivalma pelas redondezas, mas não foi suficiente. No Chile é obrigatório parar na placa PARE, sempre! Não nos multou, mas isso nos serviu de alerta. Devo lembrar que por aqui o respeito às leis de trânsito é radical. Se formos pegos a 101 km/h numa pista de 100 km/h é multa na certa. Deve ser de valor elevado porque não vimos ninguém descumprir as regras de trânsito por aqui. Depois dessa orientação, seguimos adiante prestando mais atenção nesses detalhes.
Atravessamos a Cordilheira do Sal e margeamos o Vale de la Luna, subindo morro acima. É impressionante a variedade de cenários que nossos olhos estão vendo. Passamos pela belíssima Calama (maior cidade do Atacama, onde vivem trabalhadores das minas de cobre) e pelas ruínas de Pampa Unión, uma cidade toda construída em argila. Coisas que só existem no meio do deserto. Chegamos em Antofagasta por volta das 15 h. Não há como andar depressa por causa dos ventos muito fortes. A moto balança muito e convive-se o tempo todo com aquele medão de se esborrachar no asfalto.
O deserto, de fato, vai até o litoral. Existe uma cadeia de montanhas carecas (de terra, areia e pedra) que funciona como uma cortina entre o deserto mais árido e o oceano Pacífico. Antofagasta fica espremida entre essas montanhas e o mar. A cidade é linda! Muito bem cuidada e limpa. A orla marítima é coisa de cinema: com jardins, parques, calçadöes, restaurantes e hotéis maravilhosos. Almoçamos num local à beira-mar onde vivem pelicanos. Meu Deus, eu nunca tinha visto ao vivo e a cores esses bichos antes! São enormes, com envergadura que chega a 1.60 metro. Foi um choque visual de primeira grandeza depois de tanto tempo sentindo a aridez do deserto.
Como já chegamos ao nosso destino, está na hora de fazer um breve balanço da viagem:
a) Estado das Rodovias - todas as rodovias por onde passamos estão em boas condiçöes. Em alguns trechos da Argentina tivemos que pegar uns desvios por terra por conta de obras de recuperação do asfalto. Por lá eles retiram todo asfalto e fazem outro novinho em folha.
b) Riscos na Viagem - só passei por uma situação de risco, quando atravessávamos os Caracoles (entre Purmamarca e Susques). Um caminhão invadiu a outra pista para fazer a curva no momento em que eu ia descendo uma ladeira super íngreme. Lembro que as rodovias argentinas não possuem acostamento e, nesses trechos mais sinuosos, é comum os caminhöes se utilizarem da pista inteira para fazer as curvas. Como vinha devagar, a menos de 60 km/h, foi possivel frear e passar pelo 1/3 de pista que sobrou para mim, ao lado de um despenhadeiro que só imaginava existir no cinema.
c) Ventos - tem sido nosso maior problema. Nos Andes, os ventos são fracos, mas turbilhonados, principalmente depois das 15 h. Temos a sensação de estar dentro de um túnel de turbulência, que joga a moto de um lado para o outro constantemente. São ventos imprevisíveis, porque nunca sopram numa mesma direção. No deserto, também depois das 15 h, convive-se com ventos fortíssimos, também imprevisíveis. Não dá para eleger o pior dentre os dois. Acho totalmente desaconselhável pilotar depois desse horário. Isso torna a viagem pouco produtiva, porque antes das 9 h da manhã está muito frio e depois das 3 da tarde há muitos ventos. Estamos tentando, na medida do possivel, conduzir nossa viagem nesse intervado de 6 h por dia.
d) Distância em postos de gasolina - é outro fator preocupante. Entre Saenz Peñna e Pampa de los Guanacos (Arg) há 155 km sem nenhum posto. Isso se repete entre S. S. Jujuy e Susques (170 km); e entre S. Pedro e o trevo para Antofagasta, conhecido como Oásis (220 km).
e) Umidade - esqueci de mencionar que, durante todos esses dias no deserto, a umidade relativa do ar manteve-se em 11% o tempo todo. Meus lábios estão em estado de calamidade pública. Trouxe um hidradante labial da Nívea, que não foi muito eficaz para enfrentar a secura daqui.
f) Desempenho das Motos - a XT660 é uma boa moto mesmo! Tenho a impressão que ela possui auto-regulagem para diferentes exigências de mistura. Quando mudamos rapidamente de altitude, ela perde um pouco de desempenho, que logo é corrigido. A minha fez uma média geral até aqui de 18,3 km/litro, com ajuste de injeção em C1=+6. Achei excelente por causa do peso sobre a máquina. A moto do Paulo fez 19,5 km/litro. Excetuando o fato de um pneu dianteiro furado (aparentemente por uma pedra), não tivemos qualquer outro problema. Estamos tentando manter uma velocidade real entre 100/120 km/h, onde as condiçöes são favoráveis. Nos Andes, nossa média foi inferior aos 60 km/h. A gasolina chilena é a melhor de todas. Com a Copec 97 (97 é a octanagem) a minha chegou a fazer 22 km/l. A pior performance foi com a Fangio XXI (argentina), com apenas 15,8 km/l.
g) LA MANO DEL DESIERTO - esse era o destino, o ponto final da nossa viagem: o monumento da Mão do Deserto, obra do artista Mário Irarrázabal em homenagem aos viajantes da Carretera Panamericana, localizado a 75 km de Antofagasta - sentido Santiago -, exatamente no km 1310 da Ruta 5. Chegamos no monumento por volta das 11 h, com quilometragem de 4325 km rodados desde Brasília. Foi emocionante ver nosso projeto de vinda integralmente cumprido sem atropelos e em paz. Chegar lá trouxe uma emoção diferente. Uma vontade de beijar o mundo, de abraçar e de comemorar muito!!!! Estamos nos sentindo bem mais próximos de Deus nesse momento, depois de apreciar tantas maravilhas de sua obra fantástica. Amanhã iniciaremos o trajeto de volta. Vamos trilhar o mesmo caminho da vinda, exceto por um pequeno trecho, onde alteraremos um pouco o percurso em direção a Salta, na Argentina.
PS: encontramos pelo caminho com membros do motoclube Farrapos do Asfalto, de Santa Rosa (RS), e com os Corsários de Antofagasta.
{Fotos na rodovia, no oceano Pacífico (Antofagasta) e no monumento La Mano del Desierto)

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Sou servidor aposentado do Ministério do Planejamento, motociclista há algumas décadas, em Brasília. Também sou antropólogo e sociólogo por formação; escritor, violeiro e compositor por vocação; e estradeiro por opção. Criei esse blog para compartilhar, com quem demonstre interesse, minhas viagens de moto pelo Brasil e por outros países. Contato pelo email: flaviomcas@gmail.com